quarta-feira, 17 de junho de 2015

Maré: Entre o global e o local quem sofre é o morador

O conjunto de favelas do Complexo da Maré atualmente vem passando por um processo de ocupação/militarização sem precedentes na história da cidade do Rio de Janeiro. Tanques de guerra, barricadas, blitz, são algumas das formas de controle utilizadas pelos militares para garantir a suposta segurança dos residentes locais.

Para entender esse contexto de zona de guerra na Maré, é preciso remeter o olhar para além da jurisdição municipal, estadual e federal. Faz-se necessário usar um telescópio capaz de enxergar o âmbito global, cuja conjuntura internacional selecionou a "cidade maravilhosa como a metrópole de convergência do capital. Uma vez escolhida essa condição, espaços periféricos como a Maré, serão alvos de diversas ações atuantes em segmentos diversificados.

O processo de globalização tão decantado aos quatro cantos do mundo, permitiu que a Maré fosse um exemplar da relação "global x local", onde necessidades globais reconfiguram o cotidiano local. Por sua posição espacial estratégica, onde há um entroncamento das principais vias de acesso a cidade, tornou-se necessário garantir o ir e vir dos cidadãos da "cidade formal", aqueles que precisam da mobilidade que ligue o aeroporto as áreas nobres da cidade, cujo trajeto perpassa pelo Complexo de Favelas da Maré. Então percebemos, que a tal "pacificação" irá garantir a paz, para quem passa pelas vias do entorno da Maré, sobretudo, se você for um turista, assim sendo, a necessidade de turistas principalmente nos momentos de realização de grandes eventos como foi a Copa do Mundo de 2014 e com maior intensidade quando for as Olímpiadas de 2016 é a grande preocupação de nossos governantes...

Mas e os moradores da Maré?

Para os Moradores da Maré, que segundo dados do Censo Maré são 136 mil habitantes, resta apenas a insegurança de saber que terão que sair na rua para realizar suas tarefas diárias, e que essa ação pode lhe custar a vida, caso ecloda em algum momento um confronto envolvendo militares e traficantes. E que o ir e vir nas ruas por mais seja rápido será carregado de temor, medo, pavor, pânico ou qualquer outro adjetivo próximo dessa sensação de que posso ser alvejado por uma bala perdida ou achada a qualquer momento, quando jogo futebol, quando vou a uma festa, quando vou a escola, quando realizo qualquer atividade que tenha que sair as ruas, tomadas por soldados, tanques, jipes, armas, etc. 


Tem sido frequentes os casos de pessoas baleadas ou mortas pela troca de tiros entre militares e traficantes. É inadmissível que operações militares sejam realizadas nos horários em que estudantes e trabalhadores estejam saindo de suas casas para efetuar suas tarefas, aliás é inadmissível que tanques de guerra sejam utilizados para bloquear a passagem das ruas, evitando que moradores circulem em determinados locais. A utilização de táticas de intimidação também tem sido frequentes nas operações militares... pois ser parado por quarenta militares é uma violência simbólica muito forte, sendo recorrente, gera um alto grau de tensionamento que acaba resultando em duas possibilidades; um problema de saúde, ou o enfrentamento para com os militares através de posturas mais rígidas por parte dos transeuntes que muitas vezes acabam sendo acusados de desacato a autoridade e em alguns casos são julgados em tribunal militar sem direito a defesa.

E o capital...

O Estado atua como o grande agente difusor do capital. As favelas tem sido um novo nicho de atuação do capitalismo, nessa configuração, a Maré emerge como um ótimo espaço de fluxos de capital. Atualmente, é possível viver dentro da Maré e usufruir de todos os serviços de vivência mínimos. Caixas eletrônicos, loteria, casa de show, lojas de informáticas, de roupas, restaurantes, Museu, etc. Existem uma série de segmentos onde o capital pode atuar criando novos serviços ou retirando das mãos da informalidade alguns serviços tv a cabo, internet. Cabe ressaltar, que durante o processo de ocupação, algumas empresas de telecomunicações entraram na Maré no mesmo dia que se iniciou a ocupação, ou seja, as empresas não esperaram a consolidação do processo de ocupação e tiveram a informação exata de datas e a garantia por parte do Estado, de que poderiam iniciar suas atividades em consonância com o processo de ocupação.

Dessa forma, o Estado rearticula a economia da favela a partir do processo de militarização, dando ao capital novas áreas de lucratividade até então latentes. Fica no ar a pergunta, o Estado é quem rearticula o capital e sua atuação na favela, ou é o capital que controla as ações do Estado nos espaços marginalizados da cidade como o Complexo de Favelas da Maré



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