sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Saltadores de muros

Os muros são muros, obras verticais de engenharia que cercam e delimitam um espaço determinado. Existem de todos os tipos, materiais e tamanhos.  No entanto, sua função central, independente da forma que é elaborado, é a mesma: impedir o acesso a um determinado espaço (em sua multidimensionalidade). Metaforicamente, o conceito de muro tem outro significado/simbolismo. Os esportistas, entendem os muros como os limites de sua performance. Nesse caso, não existe uma barreira real, concreta, a ser transposta. Os limites parecem estar na mente e no corpo.

Frente ao muro metafórico, basicamente pode-se tomar duas ações: tentar atravessá-lo ou abandonar a ideia de transpô-lo. Ambas as opções e suas nuances, indicam atitudes opostas em relação à vida. A primeira ação de romper o muro, revela a percepção das barreiras como formas de crescimento, como obstáculos construtivos e potencializadores de suas qualidades. A segunda ação, escolhendo não ultrapassar os muros, mostra-se uma alternativa menos otimista.

Existem várias formas de atravessar muros. Pode-se parar nele e esperar o processo de intemperismo fazê-lo ruir permitindo a passagem... Outra opção é se colocar na posição do impossível; “ninguém até hoje conseguiu” ou “isso não é para mim” são frases que irão amenizar seu medo de tentar cruzar os muros e mantê-lo(a) com a consciência tranquila mudando de ideia apenas quando um exemplo próximo conseguir tal proeza (ou milagre). Essas frases são perigosas, porque podem contaminar seu meio social, produzindo os terríveis efeitos da “incapacidade”. Somado a isso, encontramos com certa frequência pessoas com a habilidade de detectar intransponibilidade em qualquer “murinho” que encontramos durante nossas caminhadas.

Podemos passar pelas portas dos muros, embora sejam raras de encontra-las... podemos saltar os muros... podemos derrubar os muros, partindo da ajuda mútua inflamada pela coletividade. Independente da forma de passagem (e podemos cometer erros na escolha do modo), passar para o outro lado implica mudanças no cenário social/cotidiano.

Suponho eu que os indivíduos nascem predispostos a saltar os muros que vão surgindo um após o outro, mas acabam preferindo ou são compelidos a ficar estáticos. Existem pessoas de todos os tipos, somos plurais, mas não podemos permitir que os muros nos mantenham paralisados em um espaço de confinamento, ainda mais num contexto cheio de obstáculos, como por exemplo o acesso à educação. Então é ótimo estar cercado de pessoas dispostas a pular e destruir muros e não importa o quão alto eles sejam, as vezes sofremos um “jab” ficamos tontos, mas logo levamos o muro a “knockout” e novas experiências são absorvidas. Talvez tenha chegado a hora de nós educadores populares decidirmos demolir os muros da educação.


Sou negro, pobre e morador da Maré, sempre fui íntimo dos muros e sempre os derrubei...     


Luiz Lourenço

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