Cinética, substantivo feminino, ramo da física que trata
da ação das forças nas mudanças de movimento dos corpos. Na física a cinética
estuda o que faz os corpos se mexerem, em síntese o movimento destes. Mas será
que as coisas realmente estão em movimento? Ou temos a ilusão de mudança?
Na filosófica antiga isso
já foi um debate entre dois grandes filósofos, Heráclito de Éfeso afirmava com
veemência que as coisas estão em movimento perpetuo, isso quer dizer que as
coisas jamais paravam, elas estão em um processo de mudança irrefreável, como
sua famosa frase “não se pode entrar no mesmo rio duas vezes” sintetiza isso,
quando refletido no mundo de hoje que tudo está em tremenda mudança, onde o
pensamento muda com uma velocidade tremenda, onde a velocidade prevalece a todo
custo, quem dirá que ele não esteja certo, talvez?
Em oposição a outra grande
figura da época Parmênides de Eleia, que dizia que a mudança é impossível
enquanto a existência é atemporal, uniforme, necessária e imutável, como foi dito,
para ele as coisas não mudam, permanecem estáticas no tempo, João sempre será
João, mesmo que se passe milênios, diante disso ele sintetiza seu pensamento
dizendo “Não importa por onde eu comecei, pois para lá eu voltarei sempre” se
refletido com cautela poderemos chegar à conclusão de que ele está certo afinal
para onde vamos depois dessa vida se não para o mesmo lugar de onde viemos ?
Trago esses dois filósofos para discutir uma coisa que vem me
incomodado muito com o passar do tempo, a globalização, em um caráter não só
político, mas também cientifico, hoje em dia a tecnologia está tão enraizada em
nosso ser que virou um objeto de abstinência de pensar, hoje em dia refletimos
muito pouco naquilo que fazemos, simplesmente vivemos programados em rotinas
extenuantes sem entender o significado de uma descoberta cientifica, o ser
humano nunca foi tão ignorante como tem sido hoje dia, Aldous Huxley parece ter
acertado em cheio quando escreveu “Admirável mundo novo”, nossa sociedade
parece cada vez mais caminhar para esse futuro distópico, sobrecarregado com
informações fúteis, onde a vida se tornou um espetáculo mundial, e ao invés do
soma (droga usada em admirável mundo novo para que os personagens sempre
ficassem felizes), nós utilizamos a tecnologia como anestesia para nosso vazio existencial.

Nunca se usou tanta tecnologia como na sociedade de hoje, e nunca se soube
menos de ciência como na sociedade de hoje, mas porque precisamos compreender os saberes da ciência? Para não ser mais
um que irá apertar o botão nesse modelo fordista de sociedade. Quando Hannah Arendt
discorre sobre a banalidade do mal em seu livro, ela fala do caso de Adolf
Eichmmann, tratando da questão da sociedade incapaz de tomar decisões
morais, e o resultado disso é uma sociedade incapaz de questionar, que apenas
cumpre ordens, sociedade essa que hoje parece bem próxima da nossa realidade,
cada vez mais o pensar vem se tornando vulgar. E é disso que venho falar, a
globalização tem permitido que o mundo se comunique, mas isso nunca afetou
menos do que hoje sua vida, hoje em dia, descobrimos em tempo real que
pessoas morrem em todo canto do mundo, e a nossa reação é a mais fria possível.
Assisti uma série chamada Black Mirror,
que trazia o mesmo enfoque que eu trouxe no texto, a questão da tecnologia, e
de como ela nos torna cada vez mais insensível frente as atrocidades que vem
acontecendo no mundo. A tecnologia nos conectou a todas as partes do mundo, a
globalização teve sucesso nessa ação, mas também nos transformou em seres que propagam
o ódio, a tecnologia nos conectou com o mundo o inteiro, mas será que nós
estamos preparados para conhecer as diferenças do mundo...
Na maioria das vezes, temos
dificuldade para lidarmos com as relações sociais que estão próximas de nós,
quem dirá, das pessoas que estão do outro lado do mundo, e que, muitas vezes só
conhecemos através de uma tela. Eu venho me questionando sobre isso durante
muito tempo...
Desde a antiguidade, onde os conflitos
eram recorrentes, e as guerra intermináveis, os problemas se repetem, estudamos
a história para não repetir nossos erros (ou pelo menos tentar), então porque continuamos “nos matando”. Stephen Hawking fala algo genial, “o maior inimigo do
conhecimento não é ignorância, mas a ilusão do conhecimento”, enquanto nós não
aprendermos com a nossa própria história, iremos viver cristalizados, estáticos
no tempo, como no pensamento de Parmênides. Enquanto não aprendermos com as
experiências da vida, e usarmos a tecnologia com inteligência, continuaremos a
reverberar ódio, e assim, nós nunca poderemos nos banhar em um rio diferente,
caminhando para um futuro onde a técnica e seus avanços possa ser usada em prol
da humanidade e não contra ela. Se essa mudança não se realizar, nós
continuaremos a bater na mesma tecla e viver o mesmo futuro, se é que isso pode
ser chamado de futuro.
PS: Vale ressaltar que esse texto dialoga com o contexto a partir do século XIX, e que não busca generaliza as descobertas feitas como algo negativo, muito menos a ciência como algo perverso, pelo contrario, ele busca dialogar com o comportamento humano diante disso e colocando em evidencia um dos problemas que a globalização vem trazendo a nossa sociedade.
Por Filipe Pessoa - Estudante de Engenharia da UERJ e Filósofo