Historicamente atribui-se o
papel do pedagogo a Escola, embora na antiguidade, este espaço de atuação não
era tão bem definido. Atualmente o campo da Pedagogia se ocupa além do
magistério, a supervisão e orientação, além da administração escolar.
Contudo, o seu signo se
origina na “Paedéia”, na Grécia Antiga. Os “paedagogos” eram os responsáveis
pelo compromisso de educar. O pensamento educacional grego “Paedéia” era
“cuidar dos meninos”, ou seja, educar de acordo com os hábitos, valores e
costumes da cultura e da organização social grega.
Na Idade Média (400 DC -
1400DC) a Igreja Católica exercia o monopólio do saber e do conhecimento.
São os territórios clericais, sinônimos de escola e os clérigos, os pedagogos.
Com o surgimento do
Renascimento e a valorização da cidade, arte e da vida em sociedade, traz novos
contornos à vida pública. No entanto é a partir da concepção iluminista, do
racionalismo como superação da metafísica e do domínio religioso sobre o
pensar, que se inicia uma nova era, a separação entre a Igreja e o Estado.
O desenvolvimento da técnica e
da ciência tem seu pontapé inicial nas Revoluções Burguesas, especialmente a
Francesa e a Industrial no século XVIII e XIX.
Portanto a Escola se torna laica, desvencilhada da Igreja
(clero), tornando-se compromisso do Estado e da sociedade.
Todavia cabe aqui ressaltar
que as sociedades ditas como primitivas, também produziam ciência e tinham
através dos experimentos da troca e da socialização uma base social, muito bem
fundamentada a ponto de sobreviverem a um tempo muito hostil.
No entanto, é no período
burguês que a escola moderna, demarcado pelo capital, que o pedagogo toma
contornos de ser o principal responsável pelo processo de condução pedagógica,
cabendo a si a responsabilidade sobre o magistério, acompanhamento dos
educandos e aprendizes, a administração de material, o planejamento e a direção
da Instituição Escolar.
E nós aqui, como estamos?
No Brasil das décadas de 40 e
50, Era Vargas, em pleno processo de industrialização e urbanização urge a
exigência do próprio capital de ampliar o acesso das massas populares e
periféricas a educação básica com o intuito de qualificar a mão de obra para o
mercado de trabalho industrial e urbano. Com o expansionismo do capital, a
teoria do capital humano toma força, onde o processo educativo passa a ser
conduzido pelo Estado e pelo mercado onde a educação é vista e compreendida
como uma mercadoria a ser consumida.
Entretanto, se a partir da
segunda metade do século XX, em pleno Estado Nacional desenvolvimentista, a
educação começa a tomar contornos estratégicos, onde destaca-se a sua
preponderância no cenário mundial, ainda assim, é conduzida com extremo
controle, já que secularmente as primeiras letras na iniciação escolar era
circunscrita tão somente a classe dominante de caráter aristocrático colonial.
Não é por acaso o alto índice de analfabetismo no Brasil em pleno século
XX e que persiste até os dias de hoje, mesmo maquiado no analfabetismo
funcional.
O fato é que com a necessidade
de universalização da educação básica com o mote de preparar serviçais que
venham atender as novas demandas do capital industrial, buscou uma rápida
qualificação, onde o seu principal objetivo é individualizar, tornar
competitivo, calcado no mérito e, por conseguinte, sujeitos aptos a novas
diretrizes da modernidade. Porém, com a ascensão do Golpe Civil Militar de 64 de cunho
fascista, um novo ordenamento educacional, agora direcionado pelo MEC-Usaid,
onde os interesses do grande capital Estado Unidense será privilegiado. Longos
25 anos de obscurantismos, torturas, assassinatos, desaparecimentos, prisões,
enfim, períodos estes que nos deixaram marcas e sequelas profundas, jogados no
mais profundo atraso e subserviência. O campo educacional foi duramente
castigado e observado de perto, estudos no campo da Sociologia e Filosofia
foram retirados do cronograma curricular, os estudos de História e Geografia
eram direcionados em detrimento ao culto nacional, bandeira e hino, entre
outros simbolismos nacionais, nada mais positivistas do que a consigna da
Bandeira Nacional – Ordem e Progresso – porém esqueceram de dizer “para quem?”
Não é verdade? Isso sem contar com a Apologia do sistema através de conteúdos
como EPB (Estudos Políticos Brasileiros) e OSPB (Organização Social Política
Brasileira).
No entanto, com a derrocada
dos golpistas pós o longo acordo pela redemocratização do país e por
conseguinte a ascensão do projeto neoliberal a qual suas políticas tomaram
corpo mundialmente. O desmonte dos serviços públicos em detrimento das
privatizações e desemprego estrutural, fruto da precarização e das novas
tecnologias no mundo trabalho, as terceirizações e como pano de fundo é vendida
a ideia de que a educação assume o papel de salvação para os despossuídos. Como
bem retrata o slogam do famigerado “Amigos da Escola” da Fundação Roberto
Marinho: “Educação é tudo”. É mesmo? – Será? Todavia ignoram que a Educação
desassociada dos demais serviços básicos e essenciais na construção da
dignidade humana não é nada. Portanto, diferentemente do que a burguesia
propaga, o acesso à saúde, moradia, alimentação, transporte, enfim, a vida
enquanto preceito básico e elementar é essencial ao pleno desenvolvimento
social e cognitivo, todavia direito este negado a bilhões de seres humanos
mundialmente.
É neste contexto, de uma
educação pública combalida que se avança a consolidação das OS (Organizações
Sociais) de modo paulatino a lógica do capital e do mercado vão “tomando de
assalto” o sistema educacional, voltado claramente para o ensino técnico e
formação de mão de obra barata.
Recai sobre os trabalhadores a
pouca qualificação técnica e baixa escolarização, propagando assim a ideia da
empregabilidade que empurra sobre o proletariado a ideologia de fracasso
culpabilizando pela sua trajetória educacional e profissional. Como se o
contexto histórico, político e econômico não exercesse influência na vida
escolar.
A ótica empresarial se constitui
na pedagogia do capital configurada na lógica da reprodução do engessamento da
domesticação, do adestramento, da lucratividade e por fim de um ser incapaz de
pensar e interpretar o mundo, porém sinônimo de um mero consumidor.
É esta a visão que permeia no
sistema educacional vigente, onde o educando é agregado a um determinado valor
pelo conhecimento adquirido a este conceito que denominamos capital humano.
E a Pedagogia, onde está?
Paira sobre a Pedagogia, um conjunto
de conceitos que tem como objetivo principal minimizar o seu papel e
importância, atribuindo assim uma visão secundária no campo educacional. Não é
por acaso que se propaga uma leitura sobre o pedagogo, enquanto um educador que
impõe e condiciona métodos e práticas de ensino aos demais profissionais da
educação.
Além deste olhar distorcido
sobre a Pedagogia residem outras normas que estão carregadas de preconceitos,
tais como ser um curso circunscrito a mulheres o maior número de vagas no vestibular
em referência às demais áreas, por não estar diretamente ligado à sala de aula,
enfim, não faltam adjetivações onde o mote central está na inferiorização do
curso, perante as demais ciências.
No entanto, esta ótica que
toma certo corpo, inclusive no campo acadêmico está carregada de senso comum.
Entretanto a Pedagogia associada a outras ciências são de extrema
preponderância, pois são interlocutores da socialização e difusão dos saberes.
No contexto de interação e
diálogo, a Pedagogia, enquanto uma ciência do campo da educação, compreende que
os espaços educativos, sejam eles a sala de aula, ou qualquer outro território
de interação são de inúmeras riquezas, que estão para além do cronograma
conteudista imposto pela ótica tradicional.
Sendo assim, torna-se
compreensível que as faculdades de graduação tenham em seu currículo de duas a
três disciplinas, voltadas para o campo educacional, pois o quem interessa é o
conteúdo a ser incutido a todos, já que o projeto promovido pelo Estado Burguês
é de uniformizar e engessar a consciência de todos, alimentando assim uma visão
de mundo singularizada.
Daí deriva a Escola enquanto
local pouco atrativo, chato e frio, pois ignora outros saberes, não leva em
consideração a trajetória do educando e tão pouco conhece o local a qual está
situada já que o mais relevante são os saberes pré estabelecidos, o cotidiano e
a vida passam a ser irrelevantes. Não é à toa que o índice de abandono escolar
tem se mantido elevado (Em 2012, 24,3% era a taxa de abandono escolar, cerca de
1,6 milhão de alunos do ensino básico da rede pública. Dados do Pnud (Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Mesmo que haja uma série
de políticas voltadas a atender a universalização do ensino em especial no
Ensino Fundamental e em menor grau no Ensino Superior.
O sistema educacional tem se
colocado em pauta pelo menos nas duas últimas décadas e meia, ora seja através
de leis como na Constituição cidadã 1988, nas Leis de Diretrizes Básicas de
1996, no PNE (Programa Nacional de Educação), nos Parâmetros Curriculares
Nacionais – PNCs -, no Bolsa Família, no campo do Ensino Superior o ReUni,
ProUni, SiSu, além dos programas de bolsistas e por fim o ENEM (Exame Nacional
do Ensino Médio), este último com caráter de aferição.
O fato é que os parâmetros, as
leis, os programas, as normas, as medidas e as avaliações como ENEM, ENADE,
Provinha Brasil, Saerj, provas e outros estados e municípios, encontram-se nos
marcos do capital, haja vista que temas centrais se mantêm intocáveis, em seu
cunho estratégico, como o currículo e as práticas pedagógicas.
Então, de que educação estamos falando?
Se partirmos da premissa de
que este modelo é enrijecido, parte de uma formulação já cristalizada e
estática e o mais significativo consiste em reproduzir um conhecimento pronto e
acabado, estabelecido por uma concepção linear e determinista de mundo. Estas
consignas moldam um currículo fragmentado e equidistante das demandas
populares.
Se por sua vez esta escola é
opaca e nada prazerosa, pois quem determina é o mercado e o grande capital, já
que a educação é concebida enquanto uma ferramenta de perpetuação das relações
de poder.
A educação que concebemos é
emancipatória e libertadora, dialoga e interage com as identidades e
diferenças, o seu currículo oculto é calcado nas resistências populares,
levando em consideração os processos históricos. As relações entre educador e
educando não são hierárquicas e tão pouco estabelecidas pela ótica do poder.
O conhecimento não é aferido e
nem mensurado, já que as famigeradas provas e avaliações não provam nada, pois
não consideram outras formas que não sejam as deterministas, defendidas pela
lógica tradicional.
As relações estabelecidas no
cotidiano são de trocas e afeições, sendo que o mais valioso é o ser humano e
não o capital.
Os saberes são socializados e
apropriados por todos, sem agregar valor e lucro. Enfim, estamos retratando os
múltiplos saberes que não estão presos a espaços específicos e definidos, mas
sim dos saberes produzidos pela classe e que são de todos, pois é patrimônio da
humanidade.
Considerações Finais
Por fim, ainda que a ótica da
educação baseada na inclusiva social e das políticas
públicas tenham tomado um grande corpo e dimensão, especialmente nos
organismos e coletivos que atuam nos movimentos sociais. Nós gostaríamos de
pontuar que tais ações em pouco ou quase nada tocam ou mexem em questões de
fundo de cunho estratégico. Haja vista que tanto o currículo, área de intensos
debates políticos e filosóficos, tal qual as leituras e óticas predominantes
dos métodos e práticas pedagógicas se mantêm intactos, produzindo ações
conservadoras e toscas.
Tolem a crítica e o processo
de criação dos educandos, culpabilizam pelo estranhamento de uma perspectiva
arcaica e endurecida pelo tempo, punem aqueles que não se encaixam e enquadram
a forma, castigam aqueles que não comungam dos valores e hábitos propostos pela
escola, desdenham das demais culturas e princípios que não estão associadas à
visão dominante. Punem os diferentes e destroem a autoestima em nome da
meritocracia. Portanto, estes conceitos estão de pé e se
proliferam, deixando sequelas e heranças. Marcas estas imaculadas.
Com o aumento do tempo escolar
na anunciada “educação integral”, o tempo é o disciplinamento do
trabalho, já que a afirmativa evidenciada de que a educação é salvadora,
esquece de citar as demais políticas que são essenciais ao pleno
desenvolvimento humano. Pois sem as mesmas não há dignidade humana. O fato é
que em tempos de “Pátria Educadora”, os pilares centrais se mantêm fortes e de
pé, sem que uma menção a eles seja dita. Enquanto isto, amplia-se a perspectiva
privatista e sucateadora capitaneada pela bancada das instituições particulares
de ensino.
Tempos difíceis e duros estes,
todavia, as ruas nos aguardam, e que transformemos cada logradouro em vida e
corações pulsantes, repleta de lutas e sonhos. Já que pensar que a educação não
pode estar desvinculada das utopias, da liberdade e do prazer.
Sendo assim, em se tratando de
adversidades, vamos à luta, pois um novo mundo nos aguarda. E que este não seja
constituído em classes sociais. Portanto a Pedagogia não deve ser uma ciência
neutra e tão pouco a serviço da burguesia, que vê nos educandos os seus
serviçais e sim uma Pedagogia constituída nas lutas dos povos contra a opressão
e tirania da Capital.
Por José Roberto Magalhães
Fabiano Soares da Silva
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