segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Rio de Janeiro 450 anos de contradições


Cidade Maravilhosa, essa é a forma de se referir a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a cidade que é o retrato do Brasil. Nesse ano, comemoramos 450 anos da fundação da cidade, data marcante e também propícia para fazermos uma pergunta: A cidade é maravilhosa para quem? ...
Localizada sobre paisagens naturais belíssimas, a cidade foi construída entre a montanha e o mar. Espremida entre esses dois fatores geográficos naturais, criou-se a imagem de uma cidade que vive em consonância com a natureza, onde os avanços da tecnologia caminham lado a lado com a maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca. E dessa amálgama constrói-se o imaginário que perpassa para o mundo a beleza da cidade carioca.
Alguns dos cartões portais da cidade estão entre os mais visitados e fotografados do mundo, como o Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Maracanã ou a Baía de Guanabara. O Rio de Janeiro é “predestinado”... possui uma variedade enorme de paisagens naturais ou criadas pelo homem, todas incorporadas na cidade, cuja as imagens viajam o mundo e refletem o espelho do que é o Brasil.
O Rio é a cidade do “samba, do futebol e das belas mulheres” que desfilam por Copacabana, “a princesinha do mar”. O Rio é a cidade em que as favelas estão integradas ao asfalto, onde os moradores das favelas também chamadas de “comunidade” vivem no tom de sua malandragem e que no final das contas vão levando a vida com felicidade. O Rio, agora é uma cidade olímpica, aliás a primeira cidade olímpica da América do Sul, causando inveja a São Paulo e aos hermanos de Buenos Aires.
Novamente refaço a pergunta sobre o Rio de Janeiro, a cidade é maravilhosa para quem? ... Junto com as belezas da cidade, temos as contradições que parecem dividir o espaço da cidade em espaços formais e informais, criando uma fenda social que divide a cidade em grupos de classes. Áreas de ricos, localidades de classe média, e favelas. A ação social de Estado acaba sendo tripartite, baseada em cada um dos três segmentos socioeconômicos encontrados na urbe. Nessa lógica, emergem diferentes níveis de qualidade de vida, refletidas no antagonismo entre pobreza e riqueza.
Essas contradições ganham mais intensidade quando vivemos ou sobrevivemos nas áreas marginalizadas, onde o Estado não chega com os serviços públicos necessários, e se faz presente sobretudo através de seu braço armado, a polícia. Nessas áreas em que sobrevivemos, encontramos uma vasta gama de problemas; fome, miséria, habitações precárias, violência (do tráfico e da polícia), falta de luz, de água, poluição, escolas precárias, enfim, uma quantidade de dificuldades para se viver que nos diferencia de outros grupos sociais que compõem a “cidade maravilhosa”.
Cabe ressaltar, que além de todos esses impasses citados anteriormente há também a violência ideológica que faz uso do preconceito e acaba avançando para o racismo. Os habitantes que residem em áreas de informalidade, vulgo favela, sofrem diariamente com os sintomas do binômio preconceito/racismo. Exemplos não nos falta, basta lembrar dos verões, quando ocorrem blitz nas proximidades da orla da zona sul tentando evitar a presença de “favelados” nas praias, ou nos estereótipos veiculados pelas mídias e reproduzidos por agentes do Estado do tipo: “a mulher da favela é fábrica de bandidos”. Envolvendo todas essas informações sobre a cidade do Rio de Janeiro, novamente volto a perguntar, a cidade é maravilhosa para quem? Pois não vejo essas maravilhas onde moro, aliás, as vezes penso que moro em outra dimensão da cidade, a dimensão da invisibilidade.

Por Luiz Lourenço (Morador do Complexo da Maré)

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