Cidade
Maravilhosa, essa é a forma de se referir a cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, a cidade que é o retrato do Brasil. Nesse ano, comemoramos 450 anos da
fundação da cidade, data marcante e também propícia para fazermos uma pergunta:
A cidade é maravilhosa para quem? ...
Localizada
sobre paisagens naturais belíssimas, a cidade foi construída entre a montanha e
o mar. Espremida entre esses dois fatores geográficos naturais, criou-se a
imagem de uma cidade que vive em consonância com a natureza, onde os avanços da
tecnologia caminham lado a lado com a maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca. E dessa amálgama
constrói-se o imaginário que perpassa para o mundo a beleza da cidade carioca.
Alguns
dos cartões portais da cidade estão entre os mais visitados e fotografados do
mundo, como o Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Maracanã ou a Baía de Guanabara.
O Rio de Janeiro é “predestinado”... possui uma variedade enorme de paisagens
naturais ou criadas pelo homem, todas incorporadas na cidade, cuja as imagens
viajam o mundo e refletem o espelho do que é o Brasil.
O
Rio é a cidade do “samba, do futebol e
das belas mulheres” que desfilam por Copacabana, “a princesinha do mar”. O
Rio é a cidade em que as favelas estão integradas ao asfalto, onde os moradores
das favelas também chamadas de “comunidade” vivem no tom de sua malandragem e
que no final das contas vão levando a vida com felicidade. O Rio, agora é uma
cidade olímpica, aliás a primeira cidade olímpica da América do Sul, causando
inveja a São Paulo e aos hermanos de Buenos Aires.
Novamente
refaço a pergunta sobre o Rio de Janeiro, a cidade é maravilhosa para quem? ... Junto com as belezas da cidade,
temos as contradições que parecem dividir o espaço da cidade em espaços formais
e informais, criando uma fenda social que divide a cidade em grupos de classes.
Áreas de ricos, localidades de classe média, e favelas. A ação social de Estado
acaba sendo tripartite, baseada em cada um dos três segmentos socioeconômicos
encontrados na urbe. Nessa lógica, emergem diferentes níveis de qualidade de
vida, refletidas no antagonismo entre pobreza e riqueza.
Essas
contradições ganham mais intensidade quando vivemos ou sobrevivemos
nas áreas marginalizadas, onde o Estado não chega com os serviços públicos
necessários, e se faz presente sobretudo através de seu braço armado, a
polícia. Nessas áreas em que sobrevivemos,
encontramos uma vasta gama de problemas; fome, miséria, habitações
precárias, violência (do tráfico e da polícia), falta de luz, de água,
poluição, escolas precárias, enfim, uma quantidade de dificuldades para se
viver que nos diferencia de outros grupos sociais que compõem a “cidade
maravilhosa”.
Cabe
ressaltar, que além de todos esses impasses citados anteriormente há também a
violência ideológica que faz uso do preconceito e acaba avançando para o
racismo. Os habitantes que residem em áreas de informalidade, vulgo favela,
sofrem diariamente com os sintomas do binômio preconceito/racismo. Exemplos não
nos falta, basta lembrar dos verões, quando ocorrem blitz nas proximidades da
orla da zona sul tentando evitar a presença de “favelados” nas praias, ou nos
estereótipos veiculados pelas mídias e reproduzidos por agentes do Estado do
tipo: “a mulher da favela é fábrica de bandidos”. Envolvendo todas essas
informações sobre a cidade do Rio de Janeiro, novamente volto a perguntar, a cidade é maravilhosa para quem? Pois não
vejo essas maravilhas onde moro, aliás, as vezes penso que moro em outra
dimensão da cidade, a dimensão da invisibilidade.
Por
Luiz Lourenço (Morador do Complexo da Maré)
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