O que faz de uma obra um
clássico? Entre as razões, estão o
reconhecimento de sua importância
pelos pares e a sua capacidade de
explicação de um fenômeno continuar
válida ao longo do tempo.
Essas condições estão presentes na
obra de Albert Memmi, escrita na
década de 1950, porém, passadas algumas décadas a obra mantém sua aura de atualidade.
Na primeira parte do livro, prefaciado
por Jean-Paul Sartre, Memmi
expõe o retrato do colonizador,
que toma duas possíveis faces:
aquele colonizador que recusa a si
mesmo pela defesa do colonizado,
mas nem por isso elimina a sua
condição, e aquele colonizador que
aceita a si mesmo e não apresenta
as contradições do primeiro, sendo
um ser naturalmente defensor da
condição colonialista e de todos os
males de miséria e de ignorância
que ela produz.
Na segunda parte, o autor
aborda o retrato do colonizado.
Primeiramente, a sua condição é
retratada de modo uniforme, ou
seja, coletiva e de conotação negativa,
utilizando-se da ideologia
para a construção e o reforço dessa
imagem. Segundo Memmi, “toda
ideologia de combate compreende, como parte integrante de si mesma,
uma concepção do adversário. Ao
aceitar essa ideologia, as classes
dominadas confirmam, de certa
maneira, o papel que lhes foi atribuído.
Isso explica, entre outras
coisas, a relativa estabilidade das
sociedades; a opressão é, de boa
ou má vontade, tolerada pelos próprios oprimidos”.
Em seguida, o autor explora a
situação do colonizado em relação
a seus valores, ao seu histórico, à
amnésia cultural, a sua condição de
carência etc. Para ele, “a sociedade
colonizada é uma sociedade enferma
em que a dinâmica interna não
consegue mais produzir estruturas
novas. Seu rosto endurecido pela
história não passa de uma máscara,
sob a qual ela sufoca e agoniza
lentamente. Uma sociedade como
essa não pode assimilar os conflitos
de gerações, pois não se deixa
transformar”.
Por fim, Memmi expõe duas
respostas possíveis desse colonizado:
cultivar o amor pelo colonizador
e o ódio de si, que o autor
acha inapropriado, e aquela que
é sua defesa, a revolta. De acordo
com ele, “para o colonizado, não
há outra saída a não ser a consecução
do fim da colonização. E a
recusa do colonizado só pode ser
absoluta, isto é, não apenas revolta,
mas superação da revolta, ou seja,
revolução”.
O ponto central da obra é a
negação da opressão colonizadora,
que deve partir de uma consciência
do colonizado de sua condição
degradante para que este possa ter
sua libertação completa, ou para a
reconquista de si mesmo, fugindo
de uma condição que desmoraliza,
não só materialmente, mas espiritualmente
também. Para tal, o colonizado
deve não apenas se revoltar,
mas, sim, fazer uma revolução.
Diante da contemporaneidade
dos fatos, ainda há uma carência de
obras em português, mas o livro de
Memmi contempla de maneira satisfatória
as origens das revoltas. O
colonialismo analisado sob a ótica
ocidental é abundante. Nesse caso,
um ponto a mais de interesse dessa
obra são a origem e o histórico do
autor. Filósofo e sociólogo, Memmi
nasceu na Tunísia, em 1920, ainda
sob o domínio francês, e viveu as
contradições de ter origem judaica
em um mundo mulçumano. Após
a independência, também não encontrou
espaço na Tunísia liberta,
optando por viver na própria França, onde lecionou no Centro Nacional
de Pesquisa e na Universidade
de Paris (Sorbonne).
Link para download do PDF - O retrato do Colonizado precedido do retrato do colonizador.
https://drive.google.com/open?id=0BzyjgIVXNVLGWU9wd3gwT2YzNVU
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